outubro 19, 2009


Noturno


Triste como a quase pureza da alvorada, que consome a névoa e dilui e seca o orvalho. Traz a dura luz do dia, esquece a poesia, ouve os carros, inala o gás carbônico, come o enlatado. É sol do meio-dia. Derrete os miolos. Produz suor, exala o sebo.

A noite é poética. A lua. As estrelas escondidas.

Um noturno de Chopin nunca seria às 10 horas da manhã.

agosto 09, 2009

Múltiplos Interesses

Meus múltiplos interesses me incomodam. Não é possível que quase tudo possa ser interessante. Dave haver um único grande assunto, que desperte a minha paixão.

Adoro documentários! Mas também gosto de outras formas de cinema. Filmes me fascinam. Por outro lado, adoraria conhecer mais a história da arte e a arte contemporânea. Queria saber mais sobre música, especialmente jazz e música clássica.

São tantos filósofos e eu não li praticamente nada sobre o assunto. Um livrinho aqui, outro ali. Nada que me permitisse entender o pensamento filosófico com profundidade. O mesmo vale para história. Literatura é outro tema que me fascina. Quero ler os clássicos. Todos! Mas estou muito, muito, muito longe disso. Mesmo porque sempre acabo lendo outros livros, bem distantes dos cânones.

Outro tema que me atrai é psicanálise. Descontando o fato de eu frequentar o consultório de um analista toda semana, entendo pouco do assunto. Queria também fazer um curso de fotografia.

Até mesmo bancos, contabilidade, mercado financeiro, análise de balanços são temas capazes de prender minha atenção. Fui capaz de fazer um MBA sobre isso. Trabalho com isso. Aliás, no trabalho, um assunto que tem me chamado a atenção é macroeconomia. Outro de que sei pouco e acho que deveria saber mais.

Dia desses, me peguei lendo um livro sobre Einstein. Queria tentar entender um pouco da Relatividade. Confesso que aí acho que fui um pouco longe demais. Alguns temas simplesmente são demais para minha cabeça. Mas acho que deveria estudar um pouco mais de matemática e estatística, de qualquer forma.

Mas, quando penso nestas coisas, tento lembrar: Nira, você precisa se concentrar em um assunto. Senão, sabe sempre um pouco de tudo, mas não sabe nada realmente, com profundidade. Sou uma generalista. Queria entender algum assunto profundamente. Mas qual? Como escolher, diante de um mundo tão vasto e interessante?

agosto 07, 2009

Teletransporte

Adorei a definição de teletransporte no Wikipedia:

O teletransporte ou teleporte é o processo de moção de objetos de um lugar para outro, em curto espaço de tempo, sem a passagem pelo espaço intermediário. (Ver transporte). O teletransporte ainda é restrito ao campo de ficção científica e da ciência especulativa.

Esta definição clarifica dois pontos importantes para mim, quando o assunto é teletransporte:

1 - Ele é o máximo! Permite ir de um lugar para outro "sem a passagem pelo espaço intermediário", o que significa ir de São Paulo para o Rio sem passar pelo céu, por uma estrada, nem mesmo por trilhos. Simplesmente, chega-se. Nada de espera em aeroporto, transito infernal, turbulência, motoristas malucos. Eu poderia simplesmente trabalhar em São Paulo e, de repente, parar em um quiosque em frente a praia de Copacabana. Tudo num piscar de olhos.

2 - A segunda constatação é extremamente frustrante e seja quem escreveu o texto no Wikipedia teve algo de cruel. "O teletransporte ainda é restrito ao campo de ficção científica e da ciência especulativa." O Wikipedia pode ser um demolidor de sonhos.

junho 25, 2009

Quem de dentro de si não sai
Vai morrer sem amar ninguém

Vinícius de Moraes

A Outra

Ontem assisti a um filme da fase dramática de Woody Allen: "A Outra" (Another Woman). Lindíssimo. Muito psicanálitico, acompanha a história de uma mulher (Marion) que, em seus cinqüenta e poucos anos, percebe que deixou-se fechar para os sentimentos, tornando-se fria e distante das pessoas. Ela apenas percebe isso ao começar a ouvir, por acidente, as consultas de uma jovem grávida com o psicanalista do escritório ao lado do seu.

O filme ainda é da fase Mia Farrow, que interpreta a jovem angustiada (pois é, o filme é antigo). A protagonista é Gena Rowlands.

É interessante como, por meio de sonhos e de confissões de pessoas próximas, Marion percebe que fez escolhas por demais racionais em sua vida, deixando os sentimentos de lado. Em uma cena, ela lembra que aos vinte e poucos anos engravidou do então marido, mas decidiu abortar. Abortou, por medo da ligação e do sentimento que teria pelo bebê. Suas relações com todos a sua volta são superficiais: com o marido (nunca fica sozinha com ele), com o irmão, com o pai. Sempre evita assuntos "inadequados" e age sempre de acordo com o supostamente "correto", fugindo de situações de conflito ou constrangedoras. Ao mesmo tempo, ela é intelectualmente brilhante e admirada.

Enfim, um excelente filme para ver em casa, pensativo.

Como em todo Woody Allen, a música é maravilhosa. Um exemplo aí embaixo.

maio 31, 2009

Endorfina

Ana correu em direção a um autismo há algum tempo esquecido. Em cima da esteira parecia que o tempo se repetia. Movimentos e sons monótonos a levavam a seu interior. Ouvia o ritmo pesado de seu tênis sobre o chão em movimento.

A televisão a sua frente nada dizia. Ali, parecia que assistia a uma outra televisão enquanto corria absorta em pensamentos abstratos. O mundo lhe parecia mais exterior do que nunca. Ela era a única espectadora de um cinema gigantesco, com milhões de dimensões, que observava encantada.

Nas bicicletas paradas, as pessoas pareciam flutuar em câmera lenta. Os homens fortes urrando gritos guturais levantavam pesos pesadíssimos como num doce ballet. Na sala de ginástica as moças levitavam sobre camas elásticas, em lentos movimentos delicados. Nos aparelhos desajeitados, acrobatas realizavam movimentos doidos.

Naquele momento, alguém postou-se à frente da esteira. Ana não viu. Alguns minutos passaram até que percebesse a presença de uma moça movendo os lábios vagarosamente. Levou um tempo até que conseguisse escutar o que dizia:

- Ana, você está me ouvindo?

Era Felipa. Colega do trabalho. Fazia ginástica na mesma academia. E riu quando percebeu a ausência presente de Ana.

- Você estava viajando.
- Pois é. Estava mesmo. Tudo bem?
- Tudo. Estou gostando de ver sua presença na academia.

Ana sempre foi avessa a academias de ginástica. Mas também odiava ficar parada. De repente viu-se quase sem alternativas. E agora corria quase todos os dias em uma esteira eletrônica, com uma TV à frente. Achava aquele ambiente um tanto surrealista, com seus aparelhos e movimentos repetidos e organizados. Havia algo de fordiano, de Tempos Modernos, numa academia. E entrou naquela engrenagem gigante do filme de Chaplin até se acostumar. E mesmo gostar. Numa viagem louca no mesmo lugar.

maio 25, 2009

O Documentário de João

O documentário Nelson Freire é uma experiência. Não quer explicar. Não quer necessariamente informar.

Quer que o espectador sinta - exatamente como a música faz.

Tal como o músico que mal consegue se expressar com palavras - porque não precisa - o filme transmite emoção por imagem, som e silêncio. Fotografia, montagem e música. É sensorial e não racional.

Gostei muito do filme na primeira vez que vi. Mas só agora, ouvindo o João Moreira Salles falar, entendi o porquê.

maio 24, 2009

Artaud

Li em um excelente artigo de Arnaldo Jabor:

"A arte não é a imitação da vida. A vida é que é a imitação de alguma coisa transcendental com que a arte nos põe em contato", Antonin Artaud.

O artigo é genial. Recomendo a leitura.

maio 16, 2009

Simonal

Acabei de assistir ao documentário sobre o Wilson Simonal, "Ninguém sabe o duro que dei". Recomendo fortemente. Vale pela história, pela excelente pesquisa e pela música. A edição é bem feita, criando uma narrativa envolvente. A vida de sucesso e decadência de Wilson Simonal é contada através de depoimentos, linearmente, e a vida de Wilson Simonal é fascinante.

Para quem não sabe, ele não foi apenas o pai do Simoninha e do Max de Castro. Foi um dos cantores de maior sucesso no Brasil da década de 60, início de 70. As imagens mostradas no documentário são impressionantes, especialmente aquela em que o cantor rege um coro de 30 mil (ou 40 ou 50) pessoas no Maracanã.

Simonal impressiona não apenas por isso, mas também por suas qualidades como cantor. Com suingue, com emoção, com técnica, com carisma. É quase inacreditável que um único grande erro em sua vida o tenha levado ao ostracismo.

Vale a pena assistir nem que seja apenas para ouvir a música ou apenas para conhecer a história deste homem ou apenas para ver como poder ser cruel julgar e condenar alguém a penas perpétuas.

Apesar de o filme ter alguns problemas técnicos, vale muito a pena. Não sei o que houve na captação das entrevistas, mas algumas imagens dos depoimentos ficaram estranhas. Nada que comprometa o filme.

Um pouco de Simonal, para dar o gostinho:

maio 06, 2009

O que é traição?

Traição. O que é traição? É o sexo? Não sei. Me parece que pior do que a traição do sexo é a traição da amizade, a traição da confiança, a traição do respeito.

Traição é a sensação terrível de perder o chão. É a decepção seguida de raiva, seguida de resignação. Em alguns casos, seguida de vingança.

Traição é o fim da ingenuidade. É o fim de algumas crenças. É dormir com o olho aberto. É esquecer os bons momentos e transformá-los em análises.

Traição. O que é traição? Não sei. Estou descobrindo.

abril 23, 2009

Memória

A memória é mesmo uma coisa muito louca.

Outra dia meu pai estava todo feliz, porque leu em alguma revista do cabelereiro que não lembrar de tudo é importante para a inteligência ou algo assim. Isso porque a lembrança ocuparia uma parte importante do seu cérebro.

Obviamente meu pai é um cara esquecido.

Bem, isso foi só um nariz de cera para contar que não lembro do momento em que escrevi o texto do post anterior, aí embaixo.

Um dia, entrei no editor do blog (publisher, sei-lá como chama) e lá estava o texto entre os rascunhos. Segundo o Blogger, eu o havia escrito uma semana antes. E simplesmente não lembrava. Não lembro, na verdade. Quando escrevi? Por que escrevi? Como assim, "quem tucanou a Madonna?"... Que viagem!

O fato é que escrevi, porque só eu tenho a senha do blogger... Então, publiquei. Publiquei e assinei um texto que não lembro de ter escrito, simplesmente porque tudo indica que fui eu que escrevi.

Mas, a memória é uma coisa muito louca, não é não?

abril 22, 2009

Mistérios

Quem matou Laura Palmer?
Quem matou Odete Roitman?
E Baby Jane?

Quem sequestrou o Michael Jackson?
Quem tucanou a Madonna?
Quem inchou o Maradona?

Quem comeu a chapeuzinho?
Ou seria a vovozinha?
Que comeu o Lobo Mau?

Quem viu o Equador?
Passeou pela Nova Guiné?
Ou jantou na Mauritânea?

Quem? Quem?
Eu pergunto:
Quem?

abril 19, 2009

Nietzsche

Há uma exuberância da bondade que pode parecer maldade.

abril 01, 2009

To be or not to be?

Por que o João Moreira Salles nunca fez um documentário sobre a elite brasileira?

março 22, 2009

Bons curtas disponíveis na net

O Porta-Curtas é um site bacana que exibe alguns filmes às vezes não encontrados nem no YouTube.

Incluí aqui dois links que valem a pena.

O primeiro é um documentário muito legal sobre a morte da personagem Rê Bordosa. O mais divertido é que o doc é uma animação.

Dossiê Rê Bordosa

O segundo curta já é um clássico. Filmaço. Sempre vale rever.

Ilha das Flores

março 04, 2009

Arnaldo Antunes

A gente não quer só comida.
A gente quer comida, diversão e arte.

março 02, 2009

Cinema é a maior diversão

Até o momento, vi apenas dois dos filmes que concorreram à categoria principal do Oscar: Quem quer ser um milionário e O curioso caso de Benjamin Button. Gostei dos dois, mas em graus imensamente diferentes. Minha preferência é certamente pelo segundo filme.

O primeiro é divertido. A história se passa numa Índia diferente daquela que costumamos ver no cinema: mais ou menos o que Cidade de Deus fez com o Rio de Janeiro.

Parênteses: vi algumas pessoas comparar Cidade de Deus e Quem quer ser um milionário. Não vejo semelhanças. O brasileiro é infinitamente mais criativo e original, características que faltam ao filme indo-americano. Do roteiro à fotografia, passando pela edição e direção, Cidade de Deus está em outro patamar cinematográfico. Fecha parênteses.

A película de Danny Boyle é divertida, mas não tem nenhuma profundidade. A história é até um pouco boba. O mais interessante do filme é a paisagem e os personagens, o lado antropológico da obra, mostrando um pouco da vida dos indianos menos favorecidos. Nada que mereça um batalhão de prêmios.

É até com alguma tristeza que constato isso, já que Danny Boyle dirigiu um dos melhores e mais originais filmes que já assisti: Trainspotting.

Do outro lado da balança, gostei muito de Benjamin Button. Já li diversas críticas negativas ao filme, mas discordo totalmente delas. Acho o filme muito sensível, adorei a atuação da Cate Blanchett, a fotografia é extremamente cuidadosa, os personagens interessantes... Até os efeitos especiais são usados de uma forma que gostei bastante, incorporando-se inteiramente à história e aos atores. Benjamin é muito emotivo e gosto de filmes que conseguem tocar a emoção desta forma. Uma linda fábula.

Ainda faltam alguns filmes, que pretendo assistir nas próximas semanas. Ao contrário de alguns amigos, adoro a festa do Oscar. Acho fascinante. Me encanta ver os atores como personagens reais, homenageando-se, aplaudindo-se, emocionando-se. Celebrando a arte do cinema, enfim (sim, há espaço para a arte na maior "indústria" cinematográfica do mundo).

fevereiro 15, 2009

Capítulo 5

Não reconheceu em si a erudição de seu pai, a habilidade de sua mãe ou a grandeza moral de seus avós naquela terça-feira. Qual herança os mais diversos genes e as mais diversas mentalidades haviam deixado nela?

Às vezes questionava-se qual traço de sua personalidade e de seu cabelo havia herdado de seu trisavô. Aquilo simplesmente desaparecera?

De onde vinham aqueles constantes questionamentos? Não poderiam vir apenas daqueles 25 anos de vida.

Não acreditava em Deus.

Não acreditava no sobrenatural.

Mas acreditava na força das heranças, que era rica e repressora de uma forma imensamente intrincada.

O telefone tocou. Ana percebeu que aquele almoço durava mais do que o determinado. Absorta em pensamentos que a tornavam invisível, esquecera que o tempo da refeição era apenas de uma hora.

- Alô?
- Alô.
- Pois não?
- Cadê o documento da reunião?
- Na mesma gaveta.
- Ah! Obrigado! Onde você está?

"Boa pergunta", pensou. Mas respondeu:

- Pagando a conta do almoço.

Não gostava de comer sozinha, pois pensava demais. Pensamentos desconectados da realidade. Por mais que lesse uma revista enquanto comesse, hábito inteiramente copiado de seu pai, as elucubrações eram sempre sobre outros temas.

Aquele hábito que ela detestava em si, de segurar as próprias mãos, enquanto falava sobre algo sério e, geralmente, desagradável, era ela ou seu trisavô? Adoraria atribuí-lo ao avô e livrar-se da responsabilidade.

Talvez a teoria das heranças fossem apenas uma desculpa para não enfrentar suas próprias dores e dúvidas.

Naquele momento, não reconhecia em si a erudição de seu pai, a habilidade de sua mãe ou a grandeza moral de seus avós. Reconhecia, porém, as neuroses. Reconhecia as culpas. Reconhecia o medo de contrariá-los na essência e não na superfície, como sempre havia feito.

Aliás, todas as formas superficiais de contrariá-los foram burras. Perdeu coisas boas, pelo simples ato adolescente de contrariar. Mas nunca atingiu o essencial, que sempre seguiu sem verdadeiros questionamentos.

fevereiro 14, 2009

Precisamos da arte para que a verdade não nos destrua.
Nietzsche

fevereiro 03, 2009

Um filme genial

Não é arrogância, mas prefiro não mencionar o nome do filme em português. Ele simplesmente entrega mais do que devia. Chama-se Revolutionary Road. Um filme genial.

Começando pelo meio, a película vale por um dos melhores personagens dos últimos tempos, o insano John Givings, um gênio-louco que conta todas as verdades do filme: se você não estava realmente entendendo, ele vai te explicar.

Num foco bem diferente de Beleza Americana, o diretor Sam Mendes volta a abordar o tema da hipocrisia, da vida medíocre, da coragem de tomar a decisão correta.

Em Beleza Americana o herói era um homem mediano que decide romper o "caminho esperado" para, por exemplo, ter emprego de menor status e viver com tempo.

Em Revolutionary Road, temos uma heroína descontente, procurando sentido na vida e intensidade.

O personagem de Leonardo di Caprio é um banana, para ser bem direta. O filme tenta amenizar o lado dele, mas, venhamos e convenhamos, é um banana. Ou como diria Michael J. Fox em "De volta para o futuro", é um "chicken".

Passado este parágrafo-comentário-revolta, o que tenho a dizer sobre o filme é: vá ver! É um filme daqueles que faz refletir sobre um monte de coisas: desde abstratos, como sentido da vida, imagem diante da sociedade, complexo de Édipo, seu papel no mundo, até concretos, como aborto, paternidade precoce, traição, sexo.

Imperdível. Um dos melhores de uma temporada excelente.

janeiro 29, 2009

Manhã de segunda

O meu desejo
é verde,

Paisagem
que rodeia
os pensamentos e que

observo




à distância.

janeiro 16, 2009

Hoje (nada senão o instante me conhece)

Gosto do Obama.
Não gosto do Chavez.
Admiro o Gabeira e a Danuza.
Desprezo o Sérgio Cabral e o Eduardo Paes.
Amo o Chico.
Adoro o Caetano.
Me decepcionei com o Gil.
Detesto o Bush.
Tenho sentimentos dúbios sobre o Lula. Idem sobre o FH.
Acho o Kassab uma figura intrigante.
E a Marta, arrogante.
Acho o Tom Zé muito Louco.
E o William Bonner, muito chato.
Tenho carinho pelo Paulinho da Viola...
Pena da Gal...
E ódio do Ahmadinejad.
Queria conhecer mais Ella Fitzgerald e Chet Baker,
Como conheço Tom e Vinícius.
Quero ter a vida do João Moreira Salles,
A saúde do Oscar Niemeyer,
A coragem do Amyr Klink,
A inteligência do Dostoievski
E o olhar do Charles Chaplin.
Resumindo, é isso.

janeiro 14, 2009

Eu quero a sorte de um amor tranquilo.

janeiro 12, 2009

Paz e passividade

Não reconheço a imagem dos judeus e de Israel que vejo na televisão, nos jornais, nas revistas. Sou judia, filha de israelense. Fui educada num ambiente essencialmente humanista, tolerante e de respeito ao próximo.

Fui ensinada a ouvir a opinião dos outros. E também a, quando discordar, discutir com respeito. Me ensinaram que "quem salva uma vida, salva o mundo". Que não há nada maior do que uma vida. Estes são os ideais judaicos que eu conheço e com os quais sempre convivi.

Conheci bem quase todos os meus avós e sei que essa tradição vem deles. Admiro a todos, principalmente considerando-se a história deles.

A família do meu avô paterno - pai, mãe, três irmãs e um irmão - foi assassinada durante a segunda guerra mundial na Polônia. Todos eram civis e extremamente religiosos. Minha família nunca pregou o ódio aos alemães ou aos poloneses. Nunca sequer citou algo como o fim de um dos países ou de uma das culturas.

A história dos meus avós maternos é semelhante. O pai da minha mãe nasceu na Alemanha. Todos os familiares mais próximos foram assassinados. Só ele sobreviveu.

Meus avós eram - e minhas avós são - pessoas afáveis, simpáticas, que sempre almejaram aproveitar a vida e curtir a família. Sempre pregaram o respeito ao próximo. Nunca falaram em ódio, repito, mesmo tendo passado por algumas das situações mais terríveis que um ser humano pode passar.

Mas uma coisa os judeus aprenderam com a Segunda Guerra: passividade não é sinônimo de paz.

Até que ponto, em nome de uma suposta paz, se pode tolerar agressões? Israel se retirou completamente de Gaza há cerca de 3 anos.

E, embora muitos preconceituosos não acreditem, Israel gostaria de que Gaza se desenvolvesse em paz, que seus habitantes tivessem acesso a saúde de qualidade, educação, lazer, cultura. Isso significaria a paz, que é o que deseja a maior parte da população israelense.

Quem não quer isso é boa parte dos dirigentes árabes. Basta ver como vivem suas populações. São eles que usam a população empobrecida e, muitas vezes, ignorante como massa de manobra. São eles que usam os palestinos como objeto de propaganda e manipulam as massas contra o inimigo comum (essa é velha: basta ler 1984!).

Defendo Israel porque fui criada dentro dos ideais do Estado judeu. E sei que eles nada têm a ver com o que muitas vezes se divulga na mídia. Israel sonha sim com a paz, a convivência pacífica e tolerante entre os povos e com o desenvolvimento humano e social de todos.

Repito: passividade não é simônimo de paz. Infelizmente.

janeiro 06, 2009

Israel
A desumanização de Israel em curso em alguns setores do planeta é um dos maiores equívocos contemporâneos, fruto do antissemitismo, da ingenuidade e da ignorância.
Sérgio Malbergier, jornalista

Depoimento de uma mulher corajosa

janeiro 03, 2009

Capítulo 4

Permitiu-se chorar naquele momento. Pensou em colocar uma música triste no MP3 e cultivar a tristeza como fez ao longo da adolescência, ao som do CD "Let it Be", dos Beatles. Mas o pensamento passou como uma rajada de vento em sua mente. Não era mais adolescente. Não queria mais cultivar a tristeza.

A lágrima quase solitária caiu lentamente, a tempo de senti-la deslizar em sua bochecha e secar por ali mesmo.

- A lágrima seca é um aviso.

Foi até o MP3 ligado a umas caixinhas de som e escolheu um sambão da Beth Carvalho, que adorava ouvir em festas animadas:

Chora!
Não vou ligar
Não vou ligar!
Chegou a hora
Vais me pagar
Pode chorar
Pode chorar

E começou a dançar sozinha.

Ligou para uma amiga querida, uma dos velhos tempos, a quem via e com quem falava época sim, época não.

- Oi!!!! Sabe o que estou ouvindo?
- Naninha, é você?
- Oi!!! Sabe o que estou ouvindo?
- Abaixa isso aí, pô!!
- Adoro essa música.
- Hahaha! Eu também! Tá animada, hein gata.
- Vamos sair?

Priscila havia se mudado para São Paulo um pouco antes de Ana, por pura coincidência - ou porque cedo ou tarde todos se mudavam para São Paulo. Estudaram juntas no colégio, mas nem sempre na mesma turma. Em algumas fases da vida, tiveram diferenças que a afastavam como ímãs virados para o mesmo pólo. Nunca brigaram. Simplesmente percebiam.

Em comum, as duas tinham o desejo de lidar bem com as diferenças. Numa fase, achavam tudo natural: amigos mauricinhos, amigos nerds, amigos suburbanos, amigos playboyzinhos, amigos maconheiros, amigos drogados, amigos certinhos, amigos doidões, amigos tímidos, amigos não-fede-nem-cheira... Todo mundo tinha alguma coisa especial, que ambas captavam com suas anteninhas moderninhas.

Enfim, ainda tinham contatos, mesmo que esparsos, com alguns exemplares de cada espécime. Mas não se pode negar que fizeram uma seleção inconsciente (talvez elas é que tenham sido selecionadas, não importa). Era a vida adulta mostrando mais uma de suas facetas.

- É muito chato ser adulto - soltou Ana, numa frase sem contexto.

Mas Priscila entendeu.

- Queria que alguém me dissesse se é melhor usar pregador de plástico ou de madeira, se é melhor comprar panela de inox ou com teflon, um colchão de mola ou de espuma, se omo é realmente melhor que ace... – listou uma infinidade de comparações esdrúxulas.

Uma das lamúrias mais constantes de Ana e Priscila após chegarem a São Paulo era a chatice da maioridade em vias de fato. Vivendo a cerca de 450 km de suas famílias, sentiram o choque da vida adulta com uma intensidade que não esperavam.

As duas consideravam-se maduras e responsáveis, capazes de resolver qualquer assunto. Mas, no fundo, ainda ansiavam pelo aval paterno. Levariam alguns anos para perceber isso e outros tantos para se livrar disso.

Saíram. Priscila reconhecia instantaneamente a TPM de Ana. Até que era divertida.

janeiro 02, 2009

Ano novo, vida velha

À meia-noite os fogos explodiram como era esperado. Alguns dos presentes foram tomados pela emoção das circunstâncias: o som espantoso, as luzes fortíssimas, as cores exuberantes. O ambiente era apropriado para a emoção. Os presentes abraçaram-se, alguns até choraram. Foi assim com quase todos os presentes – não conseguiu visualizar todo mundo-, mas não com ela.

Às vezes achava que não era afeita a emoções. Porém não era raro chorar assistindo ao noticiário, o que contrariava essa tese e a fazia pensar que não era correta. Mas por que os presentes emocionaram-se à meia-noite e não ela?

Olhou aqueles ao seu redor. Alguns vieram abraçá-la inclusive. Ela retornou os abraços, embora sem muito entusiasmo. Não sabia fingir emoção, o que era um de seus defeitos. Uma das presentes comentou com outro que ela era muito fria.

É claro, sua intenção não era que ela escutasse o comentário, mas entre um berro e outro, entre uma explosão e outra, entre um champanhe e outro, ouviu. Aquilo feriu fundo seu coração. Quase chorou – o que talvez tivesse sido bom para mostrar àquela vadia... – mas não gostava se mostrar frágil em público. E segurou o choro na garganta.

Seus olhos umedeceram, mas ninguém percebeu.

A última vez que chorara fora assistindo o Jornal da Globo, com William Waack e Christiane Pelajo. Uma pequena orquestra de crianças do interior do Pernambuco tocava uma obra de Mozart. Essa era a notícia. Sem mais, uma lágrima percorreu seu rosto, traçando um caminho sinuoso entre os olhos e a boca. Ela sentiu aquele gostinho salgado e lembrou de sua própria infância, quando tinha vergonha de chorar e se escondia no armário do quarto. E depois ficava saboreando o sabor salgadinho, até que era bom!

Essa viagem à infância não ajudou muito. Não entendeu direito por que não se emocionou, ao contrário de quase todos – ou todos – os presentes. Mas tudo bem. O momento logo passou, as emoções passaram, e quase todos – ou todos – seguiram mais um ano sem chororô.