dezembro 29, 2006

O velho ditado

Escolhas, escolhas, escolhas... Há algo mais clichê do que "a vida é feita de escolhas"?

Mas o pior é perceber na prática quando se fez uma escolha errada. Hoje, por exemplo, não deveria estar em Itaipu. Decisão totalmente errada, impulsiva, burra, pode-se dizer.

Mas o pior é perceber que não tiro nenhuma lição disso. Não há o "pelo menos", o lado bom, o aprendizado. Algo me diz que vou continuar fazendo escolhas erradas por muito tempo na minha vida.

Mas às vezes acerto.

Mas...

dezembro 18, 2006

Eu quero um samba
(Haroldo Barbosa e Janet de Almeida)

Eu quero um samba feito só pra mim
Eu quero a melodia feita assim
Quero sambar
porque no samba eu sei que vou
A noite inteira até o sol raiar

Ah! Quando o samba acaba,
eu fico triste então
Vai melancolia, eu quero alegria
dentro do meu coração

Ah! Quando o samba acaba,
eu fico triste então
Vai melancolia,
eu quero alegria
dentro do meu coração

Eu quero um samba feito,
um samba feito só pra mim
Eu quero a melodia feita assim
Quero sambar
porque no samba eu sei que vou
A noite inteira até o sol raiar

dezembro 10, 2006

Dia e noite, noite e dia

Tarde da noite. Aquela luminosidade que apenas as madrugadas têm inquietava os olhos e animava o coração. Tudo ficava claro, simples, sem obstáculos. Pelo menos, até a manhã posterior.

Dia. Era impressionante como a luminosidade do sol do meio-dia ofuscava a visão. Dúvidas, intrigas, incertezas, culpas. Tudo aparecia pela manhã.

dezembro 05, 2006

O (maldito) desejo

A difícil arte de conciliar o querer e o poder. Ou melhor, o querer e o fazer. O desejo às vezes é imenso, mas o medo pode ser maior. Até que ponto o medo é proteção, segurança e até que ponto é burrice, limitação?

Desejar mergulhar em um mundo e ficar apenas na beiradinha, apreciando de longe, com uma certa inveja de quem está lá dentro, pode ser um sofrimento indescritível. Será maior do que o sofrimento da frustração?

Ou será que o planejamento-a-longo-prazo dá certo?

A vida é uma só. Não há tanto tempo para esperar a resposta certa.

outubro 29, 2006

Do verde para o colorido

O tempo passa, a gente amadurece. Parece uma coisa assim pretensiosa e talvez seja. Pode ser que amanhã olhe para trás e pense: como era boba. E sou. Mas menos. É aos poucos mesmo.

Amadurecer. Quando eu era criança ouvia essa palavra e já associava: gente madura, gente chata!

Descobri que é o contrário. Gente madura deixa de ser chata. E curte o que há de melhor na vida.

agosto 31, 2006

Morfeu

Sono. Os olhos fecham apesar da luminosidade e dos ruídos constantes à sua volta. Mas ela nem sente. Ouve umas palavras soltas, que pouco significam: gestãããão... fixaaaa... esforçççç...

Manter as pálpebras abertas é quase tão complicado quanto o que o professor diz. Mover um músculo, levantar um dedo, separar o lábio inferior do lábio superior. São muitos músculos.

O sono é sagrado, pensa - ou sonha, não tem certeza. Nada mais correto do que respeitar o sono. A essência sobre a matéria. O desejo sobre a obrigação. Conforta-se. Aconchega-se. Enfim, dorme.

agosto 27, 2006

Tristeza
É estranha e engraçada a tristeza da solidão. Uma certa mistura de autopiedade melodramática que leva alguém a colocar uma música triste apenas para se deliciar mais de sua própria condição - a consciência da miséria humana. As divagações ganham espaço: o que une a humanindade é a dor.

O melodrama é sempre tragicômico. O exagero tira um pouco da sinceridade da dor. Beira o absurdo. Mas os latinos temos isso: somos capazes de expor e depois rir da dor.

Tristeza não tem fim felicidade sim. Uma frase um tanto trágica para uma bela música. Todo grande amor só é bem grande se for triste. É outra canção. A tristeza é senhora. E assim há milhares de canções que enaltecem a tristeza. Não é engraçado?

agosto 25, 2006

O Afeganistão fica logo ali

Nada como bons livros para tornar humano tudo aquilo que nos parece estrangeiro.

Dois excelentes livros - distintos e complementares - sobre o Afeganistão. Ou melhor sobre a gente do Afeganistão. Quem são, o que sentem, como vivem. Os dois estão nas listas dos mais vendidos, no Brasil: O Caçador de Pipas e O Livreiro de Cabul.

agosto 17, 2006

Braços Abertos sobre a Guanabara

O coração bate mais forte. Sinto a maresia antecipadamente. Aquele cheiro de sal e umidade, gotículas microscópicas por todo o corpo. Que saudade, que saudade!

As montanhas, as cores, o mar. Que saudade do azul e do verde! Todos meus sentidos despertam. O som das ondas, a cor dos dias ensolarados, o gosto do sal, o cheiro do mar, a sensação da maresia no rosto.

Minha cidade é mesmo linda como as canções de Tom e Vinícius.

Minha cidade é a mais bela.


(E eu, nostálgica...)

agosto 13, 2006

Arte

A arte purifica a alma e traz de volta a realidade. É essa a minha sensação ao término da Festa Literária de Parati.

A arte é necessária para nos lembrar de quem realmente somos, do que realmente queremos. Ela é o real. Ou, como disse a Adélia Prado, de quem me tornei fã, é a transcendência de que tanto precisamos para viver.

É como se a rotina e o dia-a-dia duro das escolhas "racionais" empoeirassem nosso olhar e precisássemos da arte como uma espécie de limpador de um para-brisa sujo, para tornar a realidade mais visível, para nos lembrar do que é real: além da nossa razão, a nossa emoção - principalmente.

A música, a literatura, a poesia, as artes plásticas, o cinema são necessários como é necessário comer e trabalhar para sobreviver.

Às vezes esqueço disso. Não queria.

agosto 05, 2006

Companhia Itinerante

Meu irmão está ficando famoso!

Ele é guitarrista de uma banda muito boa, a companhia itinerante, que acabou de fazer um show e dar entrevista no programa atitude.com da TVE.

Para saber mais e ouvir:

http://www.companhiaitinerante.com/
http://www.fotolog.com/ciaitinerante/
http://www.orkut.com/Community.aspx?cmm=662974

julho 30, 2006

O Doce Vagabundo

Ontem vi, mais uma vez, Luzes da Cidade e, mais uma vez, chorei no final. Que linda a última cena deste filme. Arrisco dizer que é uma das mais bonitas do cinema (pelo menos do que já vi). É de uma ternura, de uma tristeza, de uma emoção sem exageros, de uma doçura...

É por isso que amo os filmes de Charles Chaplin. Ele sabe dosar como ninguém as emoções mais ternas com a comédia (aparentemente) mais simples.

Neste filme, em especial, há cenas de comédia maravilhosas, como a luta de boxe e a tentativa de suicídio do milionário.

Não é à toa que, quase 80 anos depois do lançamento do filme (mudo, é bom enfatizar), ele continua a emocionar e a divertir. A arte não envelhece.

Falando em Chaplin

Os meus dois atores/diretores preferidos são conhecidos como "comediantes": Charles Chaplin e Woody Allen. Embora, aparentemente, eles não tenham muito em comum, os dois têm o mérito de tratar temas cotidianos com muita sensibilidade. E de misturar drama e comédia de uma forma harmônica.

É claro que os dois podem ser opostos: alguém imagina um filme de Allen sem palavras? Chaplin era o ator das multidões, Allen é admirado por poucos. Mas considero os dois geniais, cada um a seu modo. Os dois sensíveis. Os dois percebem a tragédia e a comédia de nosso dia-a-dia, sem optar por um só.

julho 27, 2006

O mundo é grande mesmo!

O mundo é grande e eu quero conhecê-lo. Cada canto, cada esquina, cada detalhe. O mundo é azul e verde e eu quero conhecer cada folha e cada gota. O mundo é imenso e meu coração é do tamanho do mundo. Meu coração é vermelho e quero viver cada gota. Quero suar, quero acelerar, quero seguir, quero sentir. O mundo é grande e eu sou grande o suficiente para abraçar o mundo.
O mundo é grande
Carlos Drummond de Andrade

O mundo é grande e cabe
nesta janela sobre o mar.
O mar é grande e cabe
na cama e no colchão de amar.
O amor é grande e cabe
no breve espaço de beijar.

julho 13, 2006

Liberdade! Liberdade! Abre as asas sobre nós ou Libertas quae sera tamen

A liberdade já foi cantada em verso e prosa pelos mais diferentes autores. Pois tinham razão. Nada melhor do que a liberdade. Principalmente do que a liberdade de seus próprios medos e paranóias. Principalmente quando se percebe o quão bestas elas eram. Principalmente quando se é capaz de olhar para trás e rir das nossas próprias supostas desgraças.

julho 07, 2006

Insônia

Cinco e oito. O vermelho brilhante no escuro anuncia a hora sem pudor. Hora em que meninas com pudor deveriam estar sonhando, de olhos fechados e consciência distante.

O relógio anuncia que ela não tem pudor. Cinco e oito e ela ainda não dormiu.

O vermelho brilhante é o que mais a incomoda. A luz vermelha. Não poderia ser verde ou azul? Ela se sentia acuada pelo vermelho: cinco e oito.

Tentava fechar os olhos, pensava em carneirinhos pulando uma cerca. Um carneirinho pulou a cerca. O outro bateu com o pé na madeira no instante em que pulava. Coitado. O carneiro caiu de dor!

Ela abriu os olhos. Não podia ver ninguém sofrendo. Mas ali estava o vermelho assustador: cinco e nove.

Aquela luz, ao mesmo tempo discreta e voluptuosa, a incomodava.

Ela procurava paz, o silêncio de que precisava para o descanso. Mas só sentia o barulho do vermelho. Inquietante. Ensurdecedor.

junho 28, 2006

Tempos pós-modernos

Todos fugindo da solidão. Todos fugindo da convivência. Buscando o encontro, para depois procurar o desencontro. Viver e Morrer. Ir e Ficar. Ser e Ter. Amar e intransigir.

Há tempos.
Sabino

De tudo ficaram três coisas: a certeza de que ele estava sempre começando, a certeza de que era preciso continuar e a certeza de que seria interrompido antes de terminar. Fazer da interrupção um caminho novo. Fazer da queda um passo de dança, do medo uma escada, do sono uma ponte, da procura um encontro.

junho 25, 2006

Vida louca vida

A vida é uma só. Feito essa gente que anda brincando com a vida. A vida é feita de altos e baixos. A vida é um hospital onde quase tudo falta. A vida é assim mesmo. A gente tem que curtir a vida. A vida é a arte do encontro, embora haja tanto desencontro pela vida. Deixa a vida me levar. Vida, minha vida, olha o que é que eu fiz. A vida só se dá para quem se deu.

Sei-lá. A vida tem sempre razão.

junho 23, 2006

Infância

Lembro pouco da minha infância. Eu era muito tímida. Falava pouco. Não era triste. Gostava de brincar. Com meus amiguinhos, mas, se eles não estivessem por perto, brincava sozinha. Tinha cabelos curtos e às vezes me confundiam com menino. Tinha covinhas engraçadas. Gostava de cantar. Gostava de ouvir conversa de adultos, embora nem sempre entendesse suas piadas.

Lendo O Encontro Marcado fiquei com vontade de lembrar.

junho 17, 2006

Gente
Caetano Veloso

Gente olha pro céu
Gente quer saber o um
Gente é o lugar de se perguntar o um
Das estrelas se perguntarem se tantas são
Cada estrela se espanta à própria explosão
Gente é muito bom
Gente deve ser o bom
Tem de se cuidar, de se respeitar o bom
Está certo dizer que estrelas estão no olhar
De alguém que o amor te elegeu pra amar
Marina, Bethânia, Dolores, Renata, Leilinha, Suzana, Dedé
Gente viva brilhando, estrelas na noite
Gente quer comer
Gente quer ser feliz
Gente quer respirar ar pelo nariz
Não, meu nego, não traia nunca essa força, não
Essa força que mora em seu coração
Gente lavando roupa, amassando pão
Gente pobre arrancando a vida com a mão
No coração da mata, gente quer prosseguir
Quer durar, quer crescer, gente quer luzir
Rodrigo, Roberto, Caetano, Moreno, Francisco, Gilberto, João
Gente é brilhar, não pra morrer de fome
Gente deste planeta do céu de anil
Gente, não entendo, gente, nada nos viu
Gente, espelho de estrelas, reflexo do esplendor
Se as estrelas são tantas, só mesmo amor
Maurício, Lucila, Gildásio, Ivonete, Agripino, Gracinha, Zezé
Gente, espelho da vida, doce mistério
Doc

Adoro documentários. Assisti-los. Produzi-los. Quero voltar.
Tolerância

A parada gay, em São Paulo, é um símbolo de tolerância. Ainda que seja superficial, ainda que seja só por um dia, ainda que seja só tolerência e não aceitação.

O Brasil, ou grande parte dele, ainda acredita na ilusão de que aqui não existe preconceito. Totalmente falso. O brasileiro pode até não ser, em sua maioria, violento fisicamente ao expressar seu preconceito. Mas verbalmente certamente o é. E também nas atitudes sem palavras. No dia-a-dia.

Contra gays, contra judeus, contra negros, contra japoneses e descendentes (este eu descobri em São Paulo). É de leve, é quase envergonhado. Mas, não dê espaço, se não quiser ouvir alguns absurdos.

fevereiro 10, 2006

Lar, doce lar

Depois de dois anos em São Paulo, me rendi. Aceitei. Resignei-me. Tão cedo não saio daqui.

Aceitar isso, no entanto, tem suas compensações. Agora posso fazer planos. Já comecei, para falar a verdade.

Hoje assinei o contrato de aluguel do meu apezinho. MEU apezinho. Pela primeira vez vou morar completamente sozinha.

Estou um pouco ansiosa e muito feliz. Tenho uma sensação de independência e liberdade, mas ao mesmo tempo de responsabilidade. Estou virando gente grande. Para o bem e para o mal.