novembro 03, 2007

Piaf
Em meio ao feriado de trabalho, chuvoso para ajudar, não me restou muito mais o que fazer do que assistir a alguns filmes. Foram 5 em 2 dias. Um não me sai da cabeça, mais pela música do que pelo filme em si: Piaf, um hino de amor.

A película não é brilhante, no conjunto parece mais uma colagem de cenas, do que um único filme. Acho que a edição que o diretor pensava não funcionou muito bem. Isso não significa que não tenha gostado. Há momentos inesquecíveis, a começar pela atriz, que é inacreditavelmente perfeita! Cativante, ela sim, brilhante.

Outro ponto alto do filme é a própria história e personalidade de Edith Piaf. É difícil pensar que tanto aconteceu em menos de 50 anos: a morte de uma filha, o auge e o fundo do poço e o auge novamente, o vício, um grande amor, uma queda de avião...

Mas, no fim das contas, o que fica mesmo é a música. Não páro de ouvir (no Youtube há várias gravações originais) e pensar nas músicas do filme desde que saí da sala de cinema. A canção que realmente não sai da minha cabeça é uma das mais famosas delas, que encerra o filme. Belíssima na voz de Edith:

Non! Rien de rien
Non! Je ne regrette rien
Ni le bien qu'on m'a fait
Ni le mal tout ça m'est bien égal!

Non! Rien de rien
Non! Je ne regrette rien
C'est payé, balayé, oublié
Je me fous du passé!

Avec mes souvenirs
J'ai allumé le feu
Mes chagrins, mes plaisirs
Je n'ai plus besoin d'eux!

Balayées les amours
Et tous leurs trémolos
Balayés pour toujours
Je repars à zéro

Non! Rien de rien
Non! Je ne regrette rien
Ni le bien, qu'on m'a fait
Ni le mal, tout ça m'est bien égal!

Non! Rien de rien
Non!Je ne regrette rien
Car ma vie, car mes joies
Aujourd'hui, ça commence avec toi!

http://www.youtube.com/watch?v=i_QABS88nDc

outubro 20, 2007

Rio de janeiro, fevereiro e março

Havia um sentimento vago, fantasioso e mesmo literário de que se morresse naquele momento, caindo sobre as águas da Guanabara, não morreria.

A morte passava-lhe ao longe e, ao mesmo tempo, era-lhe íntima. Temia e desejava o limite, porém, inexplicavelmente.

Como é linda e fabulosa a minha cidade. Como sou triste longe dela. Ao menos, neste momento, acho. Vendo-a quase completa. Vendo-a inacreditavelmente ainda mais bela. Sob a ponte aérea, a ponte marítima e a ponte terrestre.

As águas negras da Guanabara.

outubro 08, 2007

Insensatez

Aproximei-me de novo. Olhei. Não vi por detrás de seus olhos. O amassado por entre suas negras sobrancelhas me questionava. Não sabia o que dizer. Distanciei-me de novo.

Pensei em abraçá-lo, mas não tive coragem. Estava de costas agora. Senti o frio na espinha. Tinha mais certeza de si quando não o via. Beijei-o na cabeça. Mas ele não percebeu. E sua tristeza continuou me envolvendo.

Sentia-me, mas não me sabia, fonte de sua infelicidade. Talvez não devesse ter saído naquele momento. Eu era fria. Nada. Ou era o oposto. E preferia não estar ali e fugir. E pensei mais em mim do que nele.

Naquele momento, desacreditei todas as minhas crenças. E fiz-me quem não era (ou desfiz quem gostaria de ser).

How insensitive
Antonio Carlos Jobim / Vinicius de Moraes / Norman Gimbel

How insensitive I must have seemed
When she told me that she loved me
How unmoved and cold I must have seemed
When she told me so sincerely
Why? She must have asked
Did I just turn and stare in icy silence?
What was I to say
What can you say
When a love affair is over
Now she's gone away
And I'm alone
With a memory of her last look
Vague and drawn and sad
I see it still
All her heartbreak in that last look
How, she must have asked
Could I just turn and stare in icy silence
What was I to do
What can you do
When a love affair is over

outubro 07, 2007

Solidão Paulista (de 2005)

Solidão. Como uma mulher como ela poderia se sentir tão só? Uma mulher. Uma mulher? Uma confusão. As velhas questões humanas, repetidas e repetidas e repetidas por milhares de anos, repetiam-se também em sua mente. Quem era ela? O que ela queria? Por que se sentia tão só? Por que essa melancolia não passava?

Solidão. Tentava fugir dela. estava sempre cercada de gente. Às vezes esquecia. Mas era por pouco tempo. Ela se achava especial. Pensava que não era digna daquele sentimento.

Mas os livros pela mesa, a televisão sempre ligada, o rádio como companheiro, a necessidade do som a sua volta. Sons humanos. Carecia de humanos. Queria gente por perto. Mas quando a gente estava por perto, muitas vezes preferia ficar sozinha.

Só. Com seus pensamentos. Devaneios. Questionamentos. Desrespostas.

Decidiu sair. Caminhar. A avenida Paulista estava cheia de gente. Camelôs, shoppings de contrabandos, transeuntes. Tanta gente. Mas ela queria conhecer estas pessoas? Seriam interessantes? O que elas têm a dizer por mais de cinco minutos?

Será pretenciosa, arrogante e preconceituosa? A maioria das pessoas lhe parecia tão desinteressante e ao mesmo fascinante. Um sentimento dúbio de que todos têm algo a ser explorado, desvendado, mostrado. Mas por algumas horas ou minutos. Quem ela quer conhecer profundamente?

O rapaz de gorro de lã passa ao seu lado. O que ele tem a dizer? Nunca vai saber. Talvez nunca mais o veja e, se o ver, provavelmente, não o reconhecerá.

Ligar para os amigos? Para as amigas? Para a lista de telefones do seu celular? Mas, quem são todas essas pessoas? Talvez conheça, realmente, cinco ou seis.

Do seu lado direito, o Masp. Do seu lado esquerdo, o Trianon. O vão, aquela área imensa vazia e eterna, ampliava sua solidão.

...
Foi um rio que passou em minha vida
(Paulinho da Viola)

Se um dia meu coração for consultado
Para saber se andou errado
Será difícil negar
Meu coração tem mania de amor
Amor não é fácil de achar
A marca dos meus desenganos ficou, ficou
Só um amor pode apagar
Porém (ai, porém)
Há um caso diferente que marcou num breve tempo
Meu coração para sempre
Era dia de carnaval
Carregava uma tristeza
Não pensava em outro amor
Quando alguém que não me lembro anunciou:
Portela! Portela!
O samba trazendo alvorada
Meu coração conquistou
Ai, minha Portela, quando vi você passar
Senti o meu coração apressado
Todo o meu corpo tomado
Minha alegria voltar
Não posso definir aquele azul
Não era do céu; nem era do mar
Foi um rio que passou em minha vida
E meu coração se deixou levar

junho 04, 2007


Greed has poisoned men's souls; has barricaded the world with hate; has goose-stepped us into misery and bloodshed. We have developed speed, but we have shut ourselves in. Machinery that gives abundance has left us in want. Our knowledge as made us cynical; our cleverness, hard and unkind. We think too much and feel too little.
Charles Chaplin

março 31, 2007

X - A Questão

A professora tinha uma letra bonita. Quando crescesse queria ter uma letra igual a dela. A que mais gostava era o X.

O X era engraçado, mas, ao mesmo tempo, despertava nela uma profunda compaixão. "Coitadinho do X", pensava, sentida.

Afinal, o X era relegado a alguma palavras pouco usadas. Às vezes, era mesmo renegado. Quem escreve xampu com X?, perguntou-se certa vez.

Outro questionamento que sempre se fazia era: quem inventou o CH? Sujeito muito burro ou muito cruel. Se já existe uma letra com som de X - o próprio, por acaso - para que juntar duas letras que criam o mesmo som? Nada prático.

Queria perguntar essas perguntas para a professora, mas ficava envergonhada. Olhava para o quadro e ficava a admirar a letra da professora. Queria que ela escrevesse uma palavra com X.

Mas isso nunca acontecia...

março 17, 2007

Terça-feia

Terça-feira era um dia triste para ela. Terça feia!, sempre pensava. Para segunda-feira, preparava-se psicologicamente, mas terça era a confirmação de que a semana começara com toda força.

Deitada em sua cama, ao lado do despertador histérico, sonhava com aquele samba: "eu faço samba e amor até mais tarde e tenho muito sono de manhã". Não sabia se preguiçosa ou se covarde, mas terrível era acordar terça-feira de manhã cedo.

Se cinzento o céu, então!, aí não havia como! Puxava o cobertor fofo e quentinho, enfiava a cabeça no travesseiro e... nem pensava no trabalho. Depois, depois.

"Patrão, o trem atrasou, por isso estou chegando agora. Trago aqui o memorando da Central. O trem atrasou meia hora. O senhor não tem razão para me mandar embora", diria.

Melhor era o mundo do sonho! Melhor era curtir um sambinha! Melhor era não precisar acordar na hora certo!

Ao menos, nas terças-feiras...

"Sonho meu!", suspirou. E levantou, sacudindo a poeira.

março 04, 2007

Papai

http://www.youtube.com/watch?v=8QXfFhe1d28
Seria uma vez...

Quando era criança, eu teria uma casa muito linda. Branquinha e de telhado vermelho como nos sonhos clássicos. Uma rede balançaria na varanda. Eu seria independente. Trabalharia no que eu gostava. Teria um marido lindo, carinhoso e compreensivo. No futuro, teria um casal de filhos. Numas longas férias, eu moraria com toda família num barco confortável e conheceria o mundo todo. Faria muitos amigos e falaria, pelo menos, cinco idiomas. Quando eu era criança, eu seria assim.
.

março 01, 2007

Um pouco de Nietzsche

- Existe uma inocência da admiração: a daquele ao qual ainda não ocorreu que pode vir a ser admirado um dia.

- Como? Um grande homem? Consigo ver apenas o ator de seu próprio ideal.

- Não existem fenômenos morais, apenas uma interpretação moral dos fenômenos.

fevereiro 11, 2007

Perdidos


A dor une a humanidade? Acho que hoje mais do que a dor, a solidão. A solidão acompanhada, como a mostrada em Encontros e Desencontros, é cada vez mais comum. Será esse nosso futuro?

A gente vive, procura novas experiências, se joga, é independente. Mas ser independente é bom? Eu prefiro depender de um sentimento.

É impossível ser feliz sozinho.
Chefão

Comprei a caixa com os três filmes do Godfather. Não lembrava como os filmes são poderosos, bem filmados, têm grandes atores e música maravilhosa. Tudo perfeitamente encaixado. Muito bem pensado. Vou assistir de novo!
Melancólica

Acho que tenho uma personalidade meio melancólica. Comprei um CD de samba e em vez de ouvir sambas alegres, que são maioria, fico repetidamente ouvindo músicas como A Flor e o Espinho.

Acho linda...

Não há mal em cultuar um pouco a tristeza.

fevereiro 06, 2007

Tire seu sorriso do caminho que eu quero passar com a minha dor.

fevereiro 04, 2007

Samba é tudo de bom

Um pouco de Cartola. Triste, mas alegra o dia. :)

O mundo é um moinho
Cartola

Ainda é cedo amor,
mal começaste a conhecer a vida,
já anuncias a hora da partida,
sem saber mesmo o rumo que irás tomar.

Presta atenção querida,
embora eu saiba que estás resolvida,
em cada esquina cai um pouco a tua vida,
em pouco tempo não serás mais o que és.

Ouça-me bem amor, preste atenção,
o mundo é um moinho,
vai triturar teus sonhos tão mesquinhos,
vai reduzir as ilusões à pó.

Presta atenção querida,
de cada amor tu herdarás só o cinismo,
quando notares estás a beira do abismo,
abismo que cavaste com teus pés.

Ainda é cedo amor,
mal começaste a conhecer a vida,
já anuncias a hora de partida,
sem saber mesmo o rumo que irás tomar.

Presta atenção querida,
embora eu saiba que estás resolvida,
em cada esquina cai um pouco a tua vida,
e em pouco tempo não serás mais o que és.

Ouça me bem amor,
presta atenção o mundo é um moinho,
vai triturar teus sonhos tão mesquinhos,
vai reduzir as ilusões a pó.

Presta atenção querida,
de cada amor tu herdarás só o cinismo,
quando notares estás a beira do abismo,
abismo que cavaste com teus pés.
Poemas tristes

Tabacaria é uma das grandes poesias da língua portuguesa. E um retrato do que não quero para mim.

Um trechinho para dar o gosto.

Fiz de mim o que não soube
E o que podia fazer de mim não o fiz.
O dominó que vesti era errado.
Conheceram-me logo por quem não era e não desmenti, e perdi-me.
Quando quis tirar a máscara,
Estava pegada à cara.
Quando a tirei e me vi ao espelho,
Já tinha envelhecido.
Estava bêbado, já não sabia vestir o dominó que não tinha tirado.
Deitei fora a máscara e dormi no vestiário
Como um cão tolerado pela gerência
Por ser inofensivo
E vou escrever esta história para provar que sou sublime.

(Álvaro de Campos)

fevereiro 03, 2007

Confusões

Não comandamos nossos sentimentos. Não sabemos quando vamos sentir desejo, repulsa, ódio, amor...

Podemos às vezes tentar manipulá-los um pouco. Mas a verdade é que o sentimento original está sempre lá, disfarçado, distorcido.

As falsas proteções que criamos, em geral, trazem dores ainda maiores. Transformam-se em mostrengos internos. Criam atitudes “defensivas”, quase por reflexo, que nem nós mesmos entendemos.

Complica mais ainda saber que a busca do auto-conhecimento tem que destruir, ou ao menos ultrapassar, todas essas distorções. E que muitas vezes não as conhecemos.

Não sei o que é mais complicado: eu ou o mundo.

janeiro 27, 2007

Tardinha
A tardinha passou voando. Um papo gostoso, muitas risadas. Cervejinha, vinhozinho, muita besteira.

Adoro passar a tarde com as amigas.