janeiro 02, 2009

Ano novo, vida velha

À meia-noite os fogos explodiram como era esperado. Alguns dos presentes foram tomados pela emoção das circunstâncias: o som espantoso, as luzes fortíssimas, as cores exuberantes. O ambiente era apropriado para a emoção. Os presentes abraçaram-se, alguns até choraram. Foi assim com quase todos os presentes – não conseguiu visualizar todo mundo-, mas não com ela.

Às vezes achava que não era afeita a emoções. Porém não era raro chorar assistindo ao noticiário, o que contrariava essa tese e a fazia pensar que não era correta. Mas por que os presentes emocionaram-se à meia-noite e não ela?

Olhou aqueles ao seu redor. Alguns vieram abraçá-la inclusive. Ela retornou os abraços, embora sem muito entusiasmo. Não sabia fingir emoção, o que era um de seus defeitos. Uma das presentes comentou com outro que ela era muito fria.

É claro, sua intenção não era que ela escutasse o comentário, mas entre um berro e outro, entre uma explosão e outra, entre um champanhe e outro, ouviu. Aquilo feriu fundo seu coração. Quase chorou – o que talvez tivesse sido bom para mostrar àquela vadia... – mas não gostava se mostrar frágil em público. E segurou o choro na garganta.

Seus olhos umedeceram, mas ninguém percebeu.

A última vez que chorara fora assistindo o Jornal da Globo, com William Waack e Christiane Pelajo. Uma pequena orquestra de crianças do interior do Pernambuco tocava uma obra de Mozart. Essa era a notícia. Sem mais, uma lágrima percorreu seu rosto, traçando um caminho sinuoso entre os olhos e a boca. Ela sentiu aquele gostinho salgado e lembrou de sua própria infância, quando tinha vergonha de chorar e se escondia no armário do quarto. E depois ficava saboreando o sabor salgadinho, até que era bom!

Essa viagem à infância não ajudou muito. Não entendeu direito por que não se emocionou, ao contrário de quase todos – ou todos – os presentes. Mas tudo bem. O momento logo passou, as emoções passaram, e quase todos – ou todos – seguiram mais um ano sem chororô.

Um comentário:

Anônimo disse...

Vixi!
Tá muito pensativa... relaxa e curte o bom da vida! :)