outubro 20, 2007

Rio de janeiro, fevereiro e março

Havia um sentimento vago, fantasioso e mesmo literário de que se morresse naquele momento, caindo sobre as águas da Guanabara, não morreria.

A morte passava-lhe ao longe e, ao mesmo tempo, era-lhe íntima. Temia e desejava o limite, porém, inexplicavelmente.

Como é linda e fabulosa a minha cidade. Como sou triste longe dela. Ao menos, neste momento, acho. Vendo-a quase completa. Vendo-a inacreditavelmente ainda mais bela. Sob a ponte aérea, a ponte marítima e a ponte terrestre.

As águas negras da Guanabara.

outubro 08, 2007

Insensatez

Aproximei-me de novo. Olhei. Não vi por detrás de seus olhos. O amassado por entre suas negras sobrancelhas me questionava. Não sabia o que dizer. Distanciei-me de novo.

Pensei em abraçá-lo, mas não tive coragem. Estava de costas agora. Senti o frio na espinha. Tinha mais certeza de si quando não o via. Beijei-o na cabeça. Mas ele não percebeu. E sua tristeza continuou me envolvendo.

Sentia-me, mas não me sabia, fonte de sua infelicidade. Talvez não devesse ter saído naquele momento. Eu era fria. Nada. Ou era o oposto. E preferia não estar ali e fugir. E pensei mais em mim do que nele.

Naquele momento, desacreditei todas as minhas crenças. E fiz-me quem não era (ou desfiz quem gostaria de ser).

How insensitive
Antonio Carlos Jobim / Vinicius de Moraes / Norman Gimbel

How insensitive I must have seemed
When she told me that she loved me
How unmoved and cold I must have seemed
When she told me so sincerely
Why? She must have asked
Did I just turn and stare in icy silence?
What was I to say
What can you say
When a love affair is over
Now she's gone away
And I'm alone
With a memory of her last look
Vague and drawn and sad
I see it still
All her heartbreak in that last look
How, she must have asked
Could I just turn and stare in icy silence
What was I to do
What can you do
When a love affair is over

outubro 07, 2007

Solidão Paulista (de 2005)

Solidão. Como uma mulher como ela poderia se sentir tão só? Uma mulher. Uma mulher? Uma confusão. As velhas questões humanas, repetidas e repetidas e repetidas por milhares de anos, repetiam-se também em sua mente. Quem era ela? O que ela queria? Por que se sentia tão só? Por que essa melancolia não passava?

Solidão. Tentava fugir dela. estava sempre cercada de gente. Às vezes esquecia. Mas era por pouco tempo. Ela se achava especial. Pensava que não era digna daquele sentimento.

Mas os livros pela mesa, a televisão sempre ligada, o rádio como companheiro, a necessidade do som a sua volta. Sons humanos. Carecia de humanos. Queria gente por perto. Mas quando a gente estava por perto, muitas vezes preferia ficar sozinha.

Só. Com seus pensamentos. Devaneios. Questionamentos. Desrespostas.

Decidiu sair. Caminhar. A avenida Paulista estava cheia de gente. Camelôs, shoppings de contrabandos, transeuntes. Tanta gente. Mas ela queria conhecer estas pessoas? Seriam interessantes? O que elas têm a dizer por mais de cinco minutos?

Será pretenciosa, arrogante e preconceituosa? A maioria das pessoas lhe parecia tão desinteressante e ao mesmo fascinante. Um sentimento dúbio de que todos têm algo a ser explorado, desvendado, mostrado. Mas por algumas horas ou minutos. Quem ela quer conhecer profundamente?

O rapaz de gorro de lã passa ao seu lado. O que ele tem a dizer? Nunca vai saber. Talvez nunca mais o veja e, se o ver, provavelmente, não o reconhecerá.

Ligar para os amigos? Para as amigas? Para a lista de telefones do seu celular? Mas, quem são todas essas pessoas? Talvez conheça, realmente, cinco ou seis.

Do seu lado direito, o Masp. Do seu lado esquerdo, o Trianon. O vão, aquela área imensa vazia e eterna, ampliava sua solidão.

...
Foi um rio que passou em minha vida
(Paulinho da Viola)

Se um dia meu coração for consultado
Para saber se andou errado
Será difícil negar
Meu coração tem mania de amor
Amor não é fácil de achar
A marca dos meus desenganos ficou, ficou
Só um amor pode apagar
Porém (ai, porém)
Há um caso diferente que marcou num breve tempo
Meu coração para sempre
Era dia de carnaval
Carregava uma tristeza
Não pensava em outro amor
Quando alguém que não me lembro anunciou:
Portela! Portela!
O samba trazendo alvorada
Meu coração conquistou
Ai, minha Portela, quando vi você passar
Senti o meu coração apressado
Todo o meu corpo tomado
Minha alegria voltar
Não posso definir aquele azul
Não era do céu; nem era do mar
Foi um rio que passou em minha vida
E meu coração se deixou levar