julho 30, 2006

O Doce Vagabundo

Ontem vi, mais uma vez, Luzes da Cidade e, mais uma vez, chorei no final. Que linda a última cena deste filme. Arrisco dizer que é uma das mais bonitas do cinema (pelo menos do que já vi). É de uma ternura, de uma tristeza, de uma emoção sem exageros, de uma doçura...

É por isso que amo os filmes de Charles Chaplin. Ele sabe dosar como ninguém as emoções mais ternas com a comédia (aparentemente) mais simples.

Neste filme, em especial, há cenas de comédia maravilhosas, como a luta de boxe e a tentativa de suicídio do milionário.

Não é à toa que, quase 80 anos depois do lançamento do filme (mudo, é bom enfatizar), ele continua a emocionar e a divertir. A arte não envelhece.

Falando em Chaplin

Os meus dois atores/diretores preferidos são conhecidos como "comediantes": Charles Chaplin e Woody Allen. Embora, aparentemente, eles não tenham muito em comum, os dois têm o mérito de tratar temas cotidianos com muita sensibilidade. E de misturar drama e comédia de uma forma harmônica.

É claro que os dois podem ser opostos: alguém imagina um filme de Allen sem palavras? Chaplin era o ator das multidões, Allen é admirado por poucos. Mas considero os dois geniais, cada um a seu modo. Os dois sensíveis. Os dois percebem a tragédia e a comédia de nosso dia-a-dia, sem optar por um só.

julho 27, 2006

O mundo é grande mesmo!

O mundo é grande e eu quero conhecê-lo. Cada canto, cada esquina, cada detalhe. O mundo é azul e verde e eu quero conhecer cada folha e cada gota. O mundo é imenso e meu coração é do tamanho do mundo. Meu coração é vermelho e quero viver cada gota. Quero suar, quero acelerar, quero seguir, quero sentir. O mundo é grande e eu sou grande o suficiente para abraçar o mundo.
O mundo é grande
Carlos Drummond de Andrade

O mundo é grande e cabe
nesta janela sobre o mar.
O mar é grande e cabe
na cama e no colchão de amar.
O amor é grande e cabe
no breve espaço de beijar.

julho 13, 2006

Liberdade! Liberdade! Abre as asas sobre nós ou Libertas quae sera tamen

A liberdade já foi cantada em verso e prosa pelos mais diferentes autores. Pois tinham razão. Nada melhor do que a liberdade. Principalmente do que a liberdade de seus próprios medos e paranóias. Principalmente quando se percebe o quão bestas elas eram. Principalmente quando se é capaz de olhar para trás e rir das nossas próprias supostas desgraças.

julho 07, 2006

Insônia

Cinco e oito. O vermelho brilhante no escuro anuncia a hora sem pudor. Hora em que meninas com pudor deveriam estar sonhando, de olhos fechados e consciência distante.

O relógio anuncia que ela não tem pudor. Cinco e oito e ela ainda não dormiu.

O vermelho brilhante é o que mais a incomoda. A luz vermelha. Não poderia ser verde ou azul? Ela se sentia acuada pelo vermelho: cinco e oito.

Tentava fechar os olhos, pensava em carneirinhos pulando uma cerca. Um carneirinho pulou a cerca. O outro bateu com o pé na madeira no instante em que pulava. Coitado. O carneiro caiu de dor!

Ela abriu os olhos. Não podia ver ninguém sofrendo. Mas ali estava o vermelho assustador: cinco e nove.

Aquela luz, ao mesmo tempo discreta e voluptuosa, a incomodava.

Ela procurava paz, o silêncio de que precisava para o descanso. Mas só sentia o barulho do vermelho. Inquietante. Ensurdecedor.