janeiro 29, 2009

Manhã de segunda

O meu desejo
é verde,

Paisagem
que rodeia
os pensamentos e que

observo




à distância.

janeiro 16, 2009

Hoje (nada senão o instante me conhece)

Gosto do Obama.
Não gosto do Chavez.
Admiro o Gabeira e a Danuza.
Desprezo o Sérgio Cabral e o Eduardo Paes.
Amo o Chico.
Adoro o Caetano.
Me decepcionei com o Gil.
Detesto o Bush.
Tenho sentimentos dúbios sobre o Lula. Idem sobre o FH.
Acho o Kassab uma figura intrigante.
E a Marta, arrogante.
Acho o Tom Zé muito Louco.
E o William Bonner, muito chato.
Tenho carinho pelo Paulinho da Viola...
Pena da Gal...
E ódio do Ahmadinejad.
Queria conhecer mais Ella Fitzgerald e Chet Baker,
Como conheço Tom e Vinícius.
Quero ter a vida do João Moreira Salles,
A saúde do Oscar Niemeyer,
A coragem do Amyr Klink,
A inteligência do Dostoievski
E o olhar do Charles Chaplin.
Resumindo, é isso.

janeiro 14, 2009

Eu quero a sorte de um amor tranquilo.

janeiro 12, 2009

Paz e passividade

Não reconheço a imagem dos judeus e de Israel que vejo na televisão, nos jornais, nas revistas. Sou judia, filha de israelense. Fui educada num ambiente essencialmente humanista, tolerante e de respeito ao próximo.

Fui ensinada a ouvir a opinião dos outros. E também a, quando discordar, discutir com respeito. Me ensinaram que "quem salva uma vida, salva o mundo". Que não há nada maior do que uma vida. Estes são os ideais judaicos que eu conheço e com os quais sempre convivi.

Conheci bem quase todos os meus avós e sei que essa tradição vem deles. Admiro a todos, principalmente considerando-se a história deles.

A família do meu avô paterno - pai, mãe, três irmãs e um irmão - foi assassinada durante a segunda guerra mundial na Polônia. Todos eram civis e extremamente religiosos. Minha família nunca pregou o ódio aos alemães ou aos poloneses. Nunca sequer citou algo como o fim de um dos países ou de uma das culturas.

A história dos meus avós maternos é semelhante. O pai da minha mãe nasceu na Alemanha. Todos os familiares mais próximos foram assassinados. Só ele sobreviveu.

Meus avós eram - e minhas avós são - pessoas afáveis, simpáticas, que sempre almejaram aproveitar a vida e curtir a família. Sempre pregaram o respeito ao próximo. Nunca falaram em ódio, repito, mesmo tendo passado por algumas das situações mais terríveis que um ser humano pode passar.

Mas uma coisa os judeus aprenderam com a Segunda Guerra: passividade não é sinônimo de paz.

Até que ponto, em nome de uma suposta paz, se pode tolerar agressões? Israel se retirou completamente de Gaza há cerca de 3 anos.

E, embora muitos preconceituosos não acreditem, Israel gostaria de que Gaza se desenvolvesse em paz, que seus habitantes tivessem acesso a saúde de qualidade, educação, lazer, cultura. Isso significaria a paz, que é o que deseja a maior parte da população israelense.

Quem não quer isso é boa parte dos dirigentes árabes. Basta ver como vivem suas populações. São eles que usam a população empobrecida e, muitas vezes, ignorante como massa de manobra. São eles que usam os palestinos como objeto de propaganda e manipulam as massas contra o inimigo comum (essa é velha: basta ler 1984!).

Defendo Israel porque fui criada dentro dos ideais do Estado judeu. E sei que eles nada têm a ver com o que muitas vezes se divulga na mídia. Israel sonha sim com a paz, a convivência pacífica e tolerante entre os povos e com o desenvolvimento humano e social de todos.

Repito: passividade não é simônimo de paz. Infelizmente.

janeiro 06, 2009

Israel
A desumanização de Israel em curso em alguns setores do planeta é um dos maiores equívocos contemporâneos, fruto do antissemitismo, da ingenuidade e da ignorância.
Sérgio Malbergier, jornalista

Depoimento de uma mulher corajosa

janeiro 03, 2009

Capítulo 4

Permitiu-se chorar naquele momento. Pensou em colocar uma música triste no MP3 e cultivar a tristeza como fez ao longo da adolescência, ao som do CD "Let it Be", dos Beatles. Mas o pensamento passou como uma rajada de vento em sua mente. Não era mais adolescente. Não queria mais cultivar a tristeza.

A lágrima quase solitária caiu lentamente, a tempo de senti-la deslizar em sua bochecha e secar por ali mesmo.

- A lágrima seca é um aviso.

Foi até o MP3 ligado a umas caixinhas de som e escolheu um sambão da Beth Carvalho, que adorava ouvir em festas animadas:

Chora!
Não vou ligar
Não vou ligar!
Chegou a hora
Vais me pagar
Pode chorar
Pode chorar

E começou a dançar sozinha.

Ligou para uma amiga querida, uma dos velhos tempos, a quem via e com quem falava época sim, época não.

- Oi!!!! Sabe o que estou ouvindo?
- Naninha, é você?
- Oi!!! Sabe o que estou ouvindo?
- Abaixa isso aí, pô!!
- Adoro essa música.
- Hahaha! Eu também! Tá animada, hein gata.
- Vamos sair?

Priscila havia se mudado para São Paulo um pouco antes de Ana, por pura coincidência - ou porque cedo ou tarde todos se mudavam para São Paulo. Estudaram juntas no colégio, mas nem sempre na mesma turma. Em algumas fases da vida, tiveram diferenças que a afastavam como ímãs virados para o mesmo pólo. Nunca brigaram. Simplesmente percebiam.

Em comum, as duas tinham o desejo de lidar bem com as diferenças. Numa fase, achavam tudo natural: amigos mauricinhos, amigos nerds, amigos suburbanos, amigos playboyzinhos, amigos maconheiros, amigos drogados, amigos certinhos, amigos doidões, amigos tímidos, amigos não-fede-nem-cheira... Todo mundo tinha alguma coisa especial, que ambas captavam com suas anteninhas moderninhas.

Enfim, ainda tinham contatos, mesmo que esparsos, com alguns exemplares de cada espécime. Mas não se pode negar que fizeram uma seleção inconsciente (talvez elas é que tenham sido selecionadas, não importa). Era a vida adulta mostrando mais uma de suas facetas.

- É muito chato ser adulto - soltou Ana, numa frase sem contexto.

Mas Priscila entendeu.

- Queria que alguém me dissesse se é melhor usar pregador de plástico ou de madeira, se é melhor comprar panela de inox ou com teflon, um colchão de mola ou de espuma, se omo é realmente melhor que ace... – listou uma infinidade de comparações esdrúxulas.

Uma das lamúrias mais constantes de Ana e Priscila após chegarem a São Paulo era a chatice da maioridade em vias de fato. Vivendo a cerca de 450 km de suas famílias, sentiram o choque da vida adulta com uma intensidade que não esperavam.

As duas consideravam-se maduras e responsáveis, capazes de resolver qualquer assunto. Mas, no fundo, ainda ansiavam pelo aval paterno. Levariam alguns anos para perceber isso e outros tantos para se livrar disso.

Saíram. Priscila reconhecia instantaneamente a TPM de Ana. Até que era divertida.

janeiro 02, 2009

Ano novo, vida velha

À meia-noite os fogos explodiram como era esperado. Alguns dos presentes foram tomados pela emoção das circunstâncias: o som espantoso, as luzes fortíssimas, as cores exuberantes. O ambiente era apropriado para a emoção. Os presentes abraçaram-se, alguns até choraram. Foi assim com quase todos os presentes – não conseguiu visualizar todo mundo-, mas não com ela.

Às vezes achava que não era afeita a emoções. Porém não era raro chorar assistindo ao noticiário, o que contrariava essa tese e a fazia pensar que não era correta. Mas por que os presentes emocionaram-se à meia-noite e não ela?

Olhou aqueles ao seu redor. Alguns vieram abraçá-la inclusive. Ela retornou os abraços, embora sem muito entusiasmo. Não sabia fingir emoção, o que era um de seus defeitos. Uma das presentes comentou com outro que ela era muito fria.

É claro, sua intenção não era que ela escutasse o comentário, mas entre um berro e outro, entre uma explosão e outra, entre um champanhe e outro, ouviu. Aquilo feriu fundo seu coração. Quase chorou – o que talvez tivesse sido bom para mostrar àquela vadia... – mas não gostava se mostrar frágil em público. E segurou o choro na garganta.

Seus olhos umedeceram, mas ninguém percebeu.

A última vez que chorara fora assistindo o Jornal da Globo, com William Waack e Christiane Pelajo. Uma pequena orquestra de crianças do interior do Pernambuco tocava uma obra de Mozart. Essa era a notícia. Sem mais, uma lágrima percorreu seu rosto, traçando um caminho sinuoso entre os olhos e a boca. Ela sentiu aquele gostinho salgado e lembrou de sua própria infância, quando tinha vergonha de chorar e se escondia no armário do quarto. E depois ficava saboreando o sabor salgadinho, até que era bom!

Essa viagem à infância não ajudou muito. Não entendeu direito por que não se emocionou, ao contrário de quase todos – ou todos – os presentes. Mas tudo bem. O momento logo passou, as emoções passaram, e quase todos – ou todos – seguiram mais um ano sem chororô.