As formigas miúdas e pretinhas subiram no bolo enfileiradas.
Clarice acompanhou e tentou contá-las, mas eram muitas. Quando chegou em 17,
ficou confusa. Não sabia se já tinha contado a de trás, parou para entender
onde estava e, quando percebeu, a fila tinha andado bastante. Não conseguia
mais reconhecer a formiga 17.
Algumas das formigas carregavam grãos do bolo. Sua mãe ficaria chateada! É como se cada uma levasse um fubazinho. Huummm! Que delícia! E de nada adiantava os obstáculos que sua mãe colocava: um prato com água, um suporte elevado. Estas dificuldades apenas instigavam as formigas, que pareciam gostar do desafio. Claro, elas sempre venciam.
Comer ou não comer um pedaço daquele bolo, que, com ou sem formigas, exalava um aroma aconchegante? Agora, elas pareciam apenas grãozinhos pretos em meio aos amarelos, como granulados de brigadeiro. A mãe colocava desses de vez em quando no bolo - e até que ficava bom.
Clarice sentiu um peteleco atrás da orelha. Quando virou, seus óculos estavam tortos, graças a um movimento hábil de seu irmão. Clarice estava tão concentrada na questão do bolo e das formigas que nem viu o menino chegando. Com um gesto rápido, ele conseguiu deslocar os óculos e, em seguida, pegá-los e sair correndo com o troféu nas mãos e uma risadinha no rosto.
Agora, ela estava ali, diante do bolo e, incrivelmente, não via mais formigas. O bolo também já não era tão definido. Sentia apenas o cheiro doce, agora ainda melhor do que antes. Claro que sabia que era o mesmo bolo e, que, dificilmente, as formigas tivessem saído de lá junto com seu irmão.
Mas uma vez ouviu que quem vê cara não vê coração. Agora não via nem um nem outro. Clarice pegou a faca, cortou uma fatia bem generosa, levou à boca e sentiu umas coceguinhas leves e gostosas nos lábios e na língua. Ficou feliz porque, além de tudo, comeu um bolo mais nutritivo do que os outros.
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