setembro 11, 2008

Capítulo 3

Aquela cidade representava igualmente solidão e liberdade. Acolhimento e distância. Clichê que fosse, sua mais completa tradução era mesmo a música de Caetano.

Nada sentiu quando cruzou a Ipiranga e a São João. Lembrou-se apenas da Avenida Nossa Senhora de Copacabana, sem a praia a duas quadras dali.

O tempo a ensinaria a abandonar o ressentimento pela cidade cinza. Sentindo-se íntima, passaria a chamá-la de Sampa.

Admiraria sua organização caótica. Seria, então, impossível não pensar nos belos contrastes da cidade como uma Lapa amplificada.

"Em São Paulo as coisas acontecem", era o que Ana repetia e acreditava. Era por isso que estava ali.

A beleza de São Paulo não era óbvia como a do Rio de Janeiro, era uma beleza sutil. De repente, percebeu-se um homem do tipo mais ordinário, que não enxerga além de belas coxas e seios fartos, que não percebe que as mulheres mais bonitas escondem-se em detalhes.

Levaria bastante tempo para perceber tudo isso.

Naquele momento, Ana pensava que ter duas casas era como ter nenhuma. Era como sempre algo faltar. Era como nunca pertencer.

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