Saddam e eu
Tinha 18 anos quando vi Saddam pela primeira e última vez. Estava na sala de meu apartamento e, de repente, ouvi rugidos e gritos desesperados. Era o início do massacre.
Curiosa, corri até a varanda, seguida pelo meu irmão. Lá embaixo, uma menina desconcertada corria pela rua e tentava subir em uma caminhonete estacionada. Sangue jorrava pelo chão. O monstro não diferenciava homens, crianças ou mulheres. Atacava a todos que se aproximavam.
Um carro passou então pela rua pouco movimentada do Bairro Peixoto. O motorista parou e abriu a janela, numa tentativa de ajudar. Logo se arrependeu. Saddam se esqueceu da menina e tentou agarrar o motorista, que fechou a janela a tempo de evitar uma tragédia.
De um dos apartamentos do prédio em frente, alguém gritou:
-Atropela! Mata!
Outro morador respondeu, berrando:
-Que absurdo! É um só um cachorro!
Com aquela confusão, eu e meu irmão levamos um susto quando a campainha tocou. Era a vizinha do segundo andar, com o filho no colo.
-Estou com medo, sozinha em casa. Posso ficar aqui?
-Claro!, respondemos a caminho da varanda.
-Vocês viram o nome do cão? É Satã!! Só podia dar nisso mesmo! Sangue de Jesus tem poder!!! Sangue de Jesus tem poder!!!
Soubemos mais tarde, pelo Jornal Nacional, que o Pit Bull se chamava Saddam. Descobrimos também que o Chico, porteiro gente boa do nosso prédio, tinha segurado as pernas do cachorro através das grades edifício, permitindo que a menina em cima da caminhonete fugisse.
Chico deu uma entrevista de 10 segundos para o JN e virou o herói da rua.
Saddam ainda hoje é lembrado, no programa Casseta e Planeta, como o cachorro de Maçaranduba. Dizem até que o presidente do Iraque recebeu seu nome em homenagem ao Pit Bull do Bairro Peixoto.
Jamais será esquecido.
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