Não vejo mais literatura no metrô. E certamente não há
poesia no escritório de um prédio velho da Paulista. Alguns podem dizer que a
arquitetura do edifício é isso ou aquilo – inspirada num fulano japonês. Mas,
para mim, é um prédio velho. E que mal há nisso?
Meu caminho é igual todos os dias. Sempre vejo a mesma estrofe
de Fernando Pessoa na parede do Metrô, os mesmos bancos verdes com ranhuras, a
mesma catraca, que agora é uma porta de vidro transparente e futurista, a mesma
calçada cinza e sem graça, a mesma ascensorista que, ao molde dos anos 80, ouve
Cindy Lauper num radinho, os
mesmos colegas, o mesmo som do teclado, as mesmas risadas, os mesmos bigodes,
carecas, cabelos alisados...
E, mesmo assim, acho bom.
Até Vinícius, que é vinícius, rejeitou um passarinho.
Então, agora declaro: quero andar de metrô e subir de
elevador e teclar no computador e distribuir sorrisos e cumprimentos educados.
E não venham meter o nariz na minha janela.