junho 20, 2011

Uma viagem ao centro da Terra

Muitos vão me criticar quando souberem o tema deste texto e sua relação com o título. Não, o assunto não é Júlio Verne. É Europa. Por anos li textos na faculdade que criticavam o “eurocentrismo” – esta mania de achar que a Europa é o centro do mundo. Pois nas últimas semanas decidi embarcar nesta fantasia. E foi uma delícia.

Para começar, passei as últimas três semanas entre Itália e Grécia, justamente as regiões popularmente conhecidas como berços da “civilização judaico-cristã ocidental” (como diria Agamenon, o casseta, não o grego).

Por coincidência, durante a viagem, caiu em minhas mãos um livrinho maravilhoso, chamado “Uma breve história do mundo”. O autor é E. H. Gombrich, aquele mesmo de “A História da Arte”. Aliás, foi por causa do autor que comprei o livro. Estava no Palácio Pitti, em Florença, na lojinha sempre presente ao final dos museus europeus, e dei de cara com o título em inglês. Em minha ignorância, fiquei curiosa para saber o que mais (Sir) Gombrich havia escrito na vida (bem, o prefácio do livro deixou bem clara minha ignorância).

Gombrich escreveu a obra nos anos 30, aos 26 anos, em seis semanas! Na época, havia terminado o doutorado, estava desempregado e um amigo solicitou-lhe a tradução de um livro infantil sobre a história do mundo. Ele leu e disse ao amigo que poderia escrever algo melhor. Não tenho dúvidas de que o fez. Foi seu primeiro livro.

“Uma breve história do mundo” é uma obra para crianças (ou infanto-juvenil), mas talvez por isso mesmo seja tão boa. É um livro despretensioso e apaixonado, perfeito para o clima das férias. E, de forma alguma, Gombrich trata seu leitor com excessiva superficialidade ou maniqueísmo. Ao contrário, seu objetivo é despertar no leitor o desejo de aprofundamento em cada uma das histórias narradas.

E o que isso tem a ver com a viagem ao centro da Terra? Bem, se considerássemos o livro como referência, 75% da história do mundo teria se passado na Europa. O restante poderia ser dividido, em ordem de importância, entre Oriente Médio, China, Estados Unidos, Índia, América espanhola, Japão e outros (portugueses têm uma breve menção e o Brasil, nenhuma).

Mas eu estava na Europa, no berço da civilização – Gombrich dedica boa parte do livro a Grécia e Roma – navegando no mundo eurocêntrico. E realmente, para mim, parecia que estava no centro do mundo. Todas aquelas camadas arqueológicas e artísticas, uma sobre a outra, uma ao lado da outra, na rua, nos museus, nos hotéis, nos restaurantes, nos palácios. Os espaços públicos magistralmente ocupados. Os deslocamentos fáceis. A beleza das ruas.

Optei pelo encantamento, tanto nos passeios quanto na leitura.