março 31, 2007

X - A Questão

A professora tinha uma letra bonita. Quando crescesse queria ter uma letra igual a dela. A que mais gostava era o X.

O X era engraçado, mas, ao mesmo tempo, despertava nela uma profunda compaixão. "Coitadinho do X", pensava, sentida.

Afinal, o X era relegado a alguma palavras pouco usadas. Às vezes, era mesmo renegado. Quem escreve xampu com X?, perguntou-se certa vez.

Outro questionamento que sempre se fazia era: quem inventou o CH? Sujeito muito burro ou muito cruel. Se já existe uma letra com som de X - o próprio, por acaso - para que juntar duas letras que criam o mesmo som? Nada prático.

Queria perguntar essas perguntas para a professora, mas ficava envergonhada. Olhava para o quadro e ficava a admirar a letra da professora. Queria que ela escrevesse uma palavra com X.

Mas isso nunca acontecia...

março 17, 2007

Terça-feia

Terça-feira era um dia triste para ela. Terça feia!, sempre pensava. Para segunda-feira, preparava-se psicologicamente, mas terça era a confirmação de que a semana começara com toda força.

Deitada em sua cama, ao lado do despertador histérico, sonhava com aquele samba: "eu faço samba e amor até mais tarde e tenho muito sono de manhã". Não sabia se preguiçosa ou se covarde, mas terrível era acordar terça-feira de manhã cedo.

Se cinzento o céu, então!, aí não havia como! Puxava o cobertor fofo e quentinho, enfiava a cabeça no travesseiro e... nem pensava no trabalho. Depois, depois.

"Patrão, o trem atrasou, por isso estou chegando agora. Trago aqui o memorando da Central. O trem atrasou meia hora. O senhor não tem razão para me mandar embora", diria.

Melhor era o mundo do sonho! Melhor era curtir um sambinha! Melhor era não precisar acordar na hora certo!

Ao menos, nas terças-feiras...

"Sonho meu!", suspirou. E levantou, sacudindo a poeira.

março 04, 2007

Papai

http://www.youtube.com/watch?v=8QXfFhe1d28
Seria uma vez...

Quando era criança, eu teria uma casa muito linda. Branquinha e de telhado vermelho como nos sonhos clássicos. Uma rede balançaria na varanda. Eu seria independente. Trabalharia no que eu gostava. Teria um marido lindo, carinhoso e compreensivo. No futuro, teria um casal de filhos. Numas longas férias, eu moraria com toda família num barco confortável e conheceria o mundo todo. Faria muitos amigos e falaria, pelo menos, cinco idiomas. Quando eu era criança, eu seria assim.
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março 01, 2007

Um pouco de Nietzsche

- Existe uma inocência da admiração: a daquele ao qual ainda não ocorreu que pode vir a ser admirado um dia.

- Como? Um grande homem? Consigo ver apenas o ator de seu próprio ideal.

- Não existem fenômenos morais, apenas uma interpretação moral dos fenômenos.