Capítulo 3
Aquela cidade representava igualmente solidão e liberdade. Acolhimento e distância. Clichê que fosse, sua mais completa tradução era mesmo a música de Caetano.
Nada sentiu quando cruzou a Ipiranga e a São João. Lembrou-se apenas da Avenida Nossa Senhora de Copacabana, sem a praia a duas quadras dali.
O tempo a ensinaria a abandonar o ressentimento pela cidade cinza. Sentindo-se íntima, passaria a chamá-la de Sampa.
Admiraria sua organização caótica. Seria, então, impossível não pensar nos belos contrastes da cidade como uma Lapa amplificada.
"Em São Paulo as coisas acontecem", era o que Ana repetia e acreditava. Era por isso que estava ali.
A beleza de São Paulo não era óbvia como a do Rio de Janeiro, era uma beleza sutil. De repente, percebeu-se um homem do tipo mais ordinário, que não enxerga além de belas coxas e seios fartos, que não percebe que as mulheres mais bonitas escondem-se em detalhes.
Levaria bastante tempo para perceber tudo isso.
Naquele momento, Ana pensava que ter duas casas era como ter nenhuma. Era como sempre algo faltar. Era como nunca pertencer.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário